O conto de fadas da adolescência
A forma de elaborar um conto de fadas segue muitas vezes
aquele modelo clichê e démodé em que o sujeito principal, sempre envolto de
opressão e maldades, encontra em um obstáculo a possibilidade de redenção em um
final-feliz contra toda a angústia do início da narrativa.
Mesmo que baseados em fatos irreais, passamos por nossas
infâncias recheadas de aventuras deliciosas em torno da grama do vizinho, dos
corredores semi-desconhecidos das casas-das-redondezas e por aquele sentimento
quente de proteção que nunca conseguimos superar de fato. Talvez daí aquele sentimento
de aversão à infância que construímos tão fortemente com o passar dos anos,
nada mais que inveja.
É por aí que caminhamos para a adolescência: com aquele
duplo sentimento de inveja das sociabilidades infantis e ao mesmo tempo de
desejo e de consumo desse novo mundo adulto que chega às bancas dos 13 anos.
Mas e como fica os contos infantis? Como as fadas e as Cinderelas habitam a
vida juvenil?
Me lembro bem que chegando aos 15 ou 16 anos (não me lembro
ao certo), gosta de fantasiar um mundo melhor, talvez um pouco como um
conto-de-fada. Me lembro ainda com uma certa dor aquelas noites (sim, era
sempre à noite que o sentimento de desgraça vinha me mostrar que aquele sonho
da noite anterior não era real nesta manhã) em que dormia debaixo do
ar-condicionado, enrolado em um lençol-azul-desbotado do tempo da grande
infância.
A história começava tal como um conto: um mocinho, oprimido
pelo dia-a-dia de uma vida escrota, fugia para muito longe, muito muito longe,
aonde ninguém poderia lhe alcançar, a não ser a liberdade absoluta. No passe de
uma mágica entrava na história, meio que se solavanco, um sujeito, de capa
preta longa e de cabelos encaracolados, sem rosto definido, que me pegava pelos
braços e que me levava para outro lugar.
O amor? Se consumia com um beijo, ou uma mordida, ou como um
abraço, leve e reconfortante em uma cena de frio. Frio que talvez fosse a única
coisa que de fato era possível sentir naquele momento. E era ao frio que eu me
apegava, contraditoriamente ao frio. Um beijo em um travesseiro selava aquele
sonho que se repetia dia após dia.