quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Grito


Me diz o que é realmente necessário pra rodar na roda: renegar a sua individualidade e fabricar qualquer outra em razão de quaisquer outros? Pois se está escrito assim, vamos todos nos tornar maravilhosos zumbis, maravilhosas marionetes.
Vamos andar em fileiras, em instituições com nossos narizes empinados e com nossos belos discursos, belas pernas, belos estilos, belas piadas de pensamento rápido, belos vestidos, belas calças, belo peso, belos músculos, bela bunda, belo carro, belo dinheiro, belos programas de tv, belos pensamentos pré-fabricados, nossa bela c-u-l-t-u-r-a.

Rodar na roda, rodar, rodar e passar. Quem roda na roda passa, escreve seu nome nela e nela fica o seu nome. É isso que todos queremos não é? i-m-o-r-t-a-l-i-d-a-d-e? Queremos mesmo é rodar nessa grande roda. Queremos rir, queremos nos divertir, ser admirado e admirar, queremos sexo e queremos estar sempre em um pedestal. I-n-t-e-l-e-c-t-u-a-i-s. Queremos fazer sexo com nosso ego até que ele estoure em uma espiral de orgasmos e de relações absolutamente homogêneas. Queremos conforto e queremos afagos, queremos amores. Queremos um pouco de morfina para o fim de uma vida decrépita regida por questões de fora. Queremos ou quero?

Acordei meio descolado hoje. Botei meus óculos escuros comprados na indústria chinesa de escravidão infantil, botei minha sandália da Ck e puxei o meu pacote de câncer em aroma de perfume. Tomei um gole de whisky OP, e peguei meu carro HC. Andei pela noite e parei na casa da Joana. Uma pequena pausa na autodestruição enquanto eu arranjo algum boy pra chupar o meu pau. Chu..par o... me...u p..au...ahhh..... Blazè enquanto eu vejo drogas e mais drogas. Mas o que não te dar um câncer hoje em dia? Todos me aplaudem, todos querem chupar o meu pau (Olha na minha cara enquanto chupa). Ah, meu poderoso pau.

Vamos nos tornar um só?

Abandonar nossas individualidades, se é que elas ainda existem, se é que elas algum dia existiram. Venha marinheiro, ouça a minha voz. Vamos nos juntar, nos tornar um só. Venha para os meus seios fartos, venha que te darei conforto e afagos, afinal, eu sou a grande roda.
É essa a grande evolução queridos, vamos nos juntar um só

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Curto demais


Olha que já faz algum tempo que não perco tempo aqui.
É engraçado como olhando coisas relativamente recente percebemos que já não somos mais daquele jeito.
Mudamos muito rápido. Tudo muda muito rápido ao nosso redor. Não há tempo nem oportunidade para permanências e, quando falo permanências, entende-se o que queira entender.
Árvores já foram cortadas.
Pessoas já foram recompostas.
Essa leveza já me beija novamente o rosto, como um reencontro de velhos amantes.
Admito que ela nunca foi muito do tipo carinhosa ou atenciosa, apenas sedutora, muito sedutora.
As coisas parecem caminhar para um futuro certo, mesmo que ele seja tão incerto quanto o passado.

Contraditório ou não, é assim que as coisas caminham. Sempre naquela espiral de metamorfoses e mudanças na maioria das vezes complexas. Sempre igual, mas ao mesmo tempo sempre diferente.
A vida é curta demais para olharmos duas vezes para o mesmo lugar.
Lugar vazio, que sempre permaneceu vazio.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Lácrimas


Me abraçe.
Abra seu sorriso.
Me engula dentro dele.
Dele, dentro dele, dele, mais uma vez nele.
Até que eu possa esquecer de tudo.
Me abraçe, me beije e me salve.
Tigres selvagens que eu conheci
Distanciam-se de mim, cada vez mais
Ruptura, do elo entre a vontade
 .
e o querer
Te quero mas me engano
Desespero
Caio no chão em lamentações
Lamentações...
Medos
Solidões
dões
.
Quero vomitar
Defecar e extrair tudo dentro de mim
Palavras já não são nada
Sons, imagens, e movimentos
Já não são nada
Quero desaparecer,
E tornar tudo um grande nada
Um grande
Sozinho
nada
n
a
d
a

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Quarta feira gorda


Sim, mais uma tentativa egocêntrica de leveza. Me contorço na penumbra, grito, choro, exclamo. Quero você, quero ele, quero todos. Deito no chão e levanto meu dorso de forma histérica. Grito por um nome que não existe. Clamo por atenção e amor. Estou soluçando entre gritos e desesperos.
As energias esgotam, paro, morro, olho para o horizonte e não vejo nada. Estico meus dedos, procuro por algo em que possa tocar, não acho, choro.
Grito, danço na escuridão como se fizesse parte dela, olho no espelho e vejo deformações. Aonde me começo e quando me termino? Quero você, quero ele, quero amar e quero amado.
Não me odeie, não me destrua, não me mate. Aonde estão nossas nuvens? Preciso de você, dele, de todos, de amor, de mim.
O que resta. Entranhas, tripas, danças frenéticas e histeria. Estou perdendo minhas peças do quebra-cabeça. Quebre a minha cabeça antes que eu o faça. Egocentrismo, egoísmo, estupidez, estranhamento.
Grito por socorro, só vejo o espelho, não vejo paz.
Quero você, preciso de você, quero seu abraço, quero suas palavras. Preciso de um novo elemento. Não me completo. Não me basto.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Dialética sentimental

 
Dizem que tudo na vida tem o seu lado positivo e o seu lado negativo. Que esta é a essência do universo, um código binário de opostos. Mas sempre vi isto como redução, como segurança, como um terreno pleno, seguro de se tocar. E a terceira possibilidade? E a quarta, quinta, sexta sétima oitav  non dé d...?
Esses dias tem me tirado o chão, a paz e a emoção. Tinha nas minhas mãos algumas possibilidade, não binárias, de conseguir lhe dar com o coração. Chorei, pensei, me castrei e até fiz promessa. Pra que?
Pra te matar, para te podar de mim. Tirar o brilho, as lembranças da minha mente para toda a eternidade. Decidi cortar a sua árvore, te arrancar de mim pela sua raíz. 
Mesmo como uma metáfora aleatória, me vejo perdendo algumas coisas junto com as suas raízes. Afinal das contas, somos constituídos por nós, nós e por outros que habitam dentro de nós. É como um pequeno mundo, cheio  de sociabilidades e conflitos habitando dentro de nós. Pequenos "eu" que gritam a todo o momento querendo te dominar, ou mesmo te completar.
Mas somos incompletos, mas sou incompleto e preciso me curar, me saudar, me acariciar. Meu "eu" já cansou de sofrer pelas minhas mãos, quer agora uma casa, carinhos e afagos. Quero poder me refugiar na farsa de um romance, nas mentiras ditas em uma manhã pós-sexo-selvagem. Me esconder nas sombras da mentira e do superficial, não quero profundo, quero voar.
Vou sangrar, vou apodrecer, vou decair mais um pouco. Mas quando estiver la no fundo, sujo de lama e sangue, vou poder ser livre, ser eu mesmo, e fugir para outro lugar que já não me cause tanta dor. Pesado, concreto, quero me depreender da sua raiz, mesmo que isso faça de mim um andarilho celeste.
Quero de volta o coração que eu te dei e que você guardou no fundo da sua gaveta, junto com outras dezenas. Quero meu ser de volta, mesmo que ele já não exista.
Quero poder te esquecer, quero poder me frustrar, quero poder ser livre novamente e voar como um pássaro para as nuvens que, mesmo sem conteúdo, me enchem de sentido e de paz. Nesta madrugada de quarta, textos para serem lidos, conteúdos para serem fixados como peças de um robô, te roubei por alguns instantes para me despedir, de uma vez por todas, de tudo o que eu não vivi. Poderia ficar escrevendo textos e mais textos, e mais livros e mais coletâneas sobre tudo o que eu sinto neste momento, mas lamentar não vai me levar a nada, chegou a hora do corte.
Corte no tronco, com sangue, suor e dor. Mas um corte para abrir em um caminho de alguma perspectiva. Te quero, mas não te preciso. Sei que gostas de outra pessoa, e acredite, isso tem me matado lentamente. No final das contas, acho que a sua linda árvore que eu tanto cultivei, não passava de uma erva daninha que tem criado raízes fundas no meu ser e me tirado as forças, adeus.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Everyone have a Dream


O inverso chegou, tranzendo consigo toda a sua rotina. Memórias curtas, sentimentos disapercebidos, "passados" batidos em um liquidificador. Ausência de qualquer coisa, inclusive de você. Dias curtos, sem muitos espaços para reflexões, sem mesmo poder ser livre. Tempo de deixar a terra descansar, das feridas cicacritrazem, deixar você passar. Chega a hora de deixar a grande e enfraquecida árvore por sua conta própria , ao acaso. 

Mas me prometa que você não vai embora. Me prometa que se você for, não vai ser assim tão cruel. Me prometa que quando você me abandonar não irá me matar dentro de você. Me prometa que quando você me matar eu ainda sentirei alguma coisa. Me ajuda a aceitar a morte, me ajuda a entender os porquês.

Aceitei cuidar da sua árvore em uma tentativa desesperada de ainda me sentir humano. Mas percebo que não adianta tentar enganar o que não pode mais ser enganado. Te pediria que aparecesse e me salvasse, o real é a única coisa que pode me salvar. Mas não sou muito do tipo resignado e nem passivo. É que às vezes é bom imaginar você e eu, minha árvore e a sua. Em uma noite qualquer, sem nenhuma explicação ou mesmo sentido. Você entrando por esta porta e me abraçando na cama: Braços, costas, peito, pernas e, por fim, bocas. Corpos quentes em um mundo cada vez mais frio.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O horror, o terror e os Amores de uma vida contemporânea

 
Às bordas de uma multidão: suores, cheiros, perigos e sentimentos. Corpos se chocando e dançando em meio a centímetros de liberdade, cada qual com o seu universo, com as suas mentes complexas e irradiantes de sonoridades agudas. Mentes, pensamentos e existências que se diferenciam uma das outras por gritos individuais, cada qual com o seu timbre de desespero, sua altura de dor e as suas notas que refletem desejos diferentes. Acho que este é o estigma das cidades, sonoridades, efemeridades e trânsito, principalmente de ideias. 
É neste ambiente que as mentes mais atormentadas e as mais apáticas se chocam todos os dias, resultando em pequenos relâmpagos. Relâmpagos de conexão, como se fosse possível duas mentes se unirem durante alguns segundos, mas para a maioria das pessoas não é. No entanto, é naquele segundo em que você olha pela janela e percebe o que se passa dentro daquela carcaça, é disto que estou falando.  

São nestes lugares que passam todos os dias as mazelas existenciais do ser humano, toda aquela bola de merda que parece ter se tornado cada vez maior com o passar dos anos. Um horror tão grande que é capaz de passar por cima de qualquer ser vivo sem que ele tenha qualquer chance de defesa: a angustia, a solidão, a finitude, a apatia e por aí vai. São doenças que nos infectaram a séculos, são como câncer, HIV ou qualquer outra destas ditas "pragas". Elas aparecem, lhe consomem por dentro até só restar pele e depois te matam, te jogam em um buraco escuro com outras dezenas de corpos. Ta achando que é só com você mocinho? Esta merda acontece com todos, até com aquelas pessoas de comercial de leite.  Todos sentem os vermes comendo a sua carne por dentro, te devorando como larvas de uma vespa... é isso aí gente, é a realidade.

Te assusta gatinho a ideia de um esqueleto por detrás daquela pele linda, sem imperfeições, rosada e com um puto falso sorriso no rosto? Pois é, este é o terror da vida contemporânea. É como um câncer, um HIV ou qualquer uma destas pragas da modernidade. Você nunca sabe quando na verdade está se casando com um esqueleto, com um doente prestes a se perder na borda do ego, a surtar. Nos chocamos todos os  dias e tudo o que ouvimos um dos outros são ruídos, aqueles ruídos sempre presentes no fundo das nossas cabeças. Densidades, timbres, alturas e notas. É como uma grande orquestra que caminha para o mesmo fim.

Uma mulher anda no meio de milhares desesperados voltados para a solidão: - Será que vou realmente ficar velha e sozinha? - Não duvide senhora, todos nós ficamos sozinhos no final da noite.
Um rapaz olha atentamente o seu relógio invertido no pulso esquerdo, pensando no trabalho de sociologia que vai ter que entregar pela noite, pensando, refletindo enquanto fode, contando os minutos para poder atingir aqueles 5 segundos que lhe fazem sair do meio dos suores e dos cheiros da multidão. Sem olhar no rosto do rapaz, uma outra existência que está no seu completo limite de degradação, barebacking, em meio à lama, ao cheio de mijo no chão, com a cara afundada em meio a um lamaçal de bosta e urina já antecipa o que vem pela noite. 

Este são os amores da vida contemporânea querido. É a isto que estamos pre-destinados, a viver com a cara no lamaçal de merda e vômito, a amar aquilo que não está nos suores e nem nos gritos de desespero. Amamos aquilo que vai nos tirar de toda esta lama, aquele com uma farda engomada, com um cheiro de perfume francês  e que vai cuidar de nós como e nos fazer calar um pouco esses sons agudos.