quarta-feira, 23 de março de 2011

Dialética sentimental

 
Dizem que tudo na vida tem o seu lado positivo e o seu lado negativo. Que esta é a essência do universo, um código binário de opostos. Mas sempre vi isto como redução, como segurança, como um terreno pleno, seguro de se tocar. E a terceira possibilidade? E a quarta, quinta, sexta sétima oitav  non dé d...?
Esses dias tem me tirado o chão, a paz e a emoção. Tinha nas minhas mãos algumas possibilidade, não binárias, de conseguir lhe dar com o coração. Chorei, pensei, me castrei e até fiz promessa. Pra que?
Pra te matar, para te podar de mim. Tirar o brilho, as lembranças da minha mente para toda a eternidade. Decidi cortar a sua árvore, te arrancar de mim pela sua raíz. 
Mesmo como uma metáfora aleatória, me vejo perdendo algumas coisas junto com as suas raízes. Afinal das contas, somos constituídos por nós, nós e por outros que habitam dentro de nós. É como um pequeno mundo, cheio  de sociabilidades e conflitos habitando dentro de nós. Pequenos "eu" que gritam a todo o momento querendo te dominar, ou mesmo te completar.
Mas somos incompletos, mas sou incompleto e preciso me curar, me saudar, me acariciar. Meu "eu" já cansou de sofrer pelas minhas mãos, quer agora uma casa, carinhos e afagos. Quero poder me refugiar na farsa de um romance, nas mentiras ditas em uma manhã pós-sexo-selvagem. Me esconder nas sombras da mentira e do superficial, não quero profundo, quero voar.
Vou sangrar, vou apodrecer, vou decair mais um pouco. Mas quando estiver la no fundo, sujo de lama e sangue, vou poder ser livre, ser eu mesmo, e fugir para outro lugar que já não me cause tanta dor. Pesado, concreto, quero me depreender da sua raiz, mesmo que isso faça de mim um andarilho celeste.
Quero de volta o coração que eu te dei e que você guardou no fundo da sua gaveta, junto com outras dezenas. Quero meu ser de volta, mesmo que ele já não exista.
Quero poder te esquecer, quero poder me frustrar, quero poder ser livre novamente e voar como um pássaro para as nuvens que, mesmo sem conteúdo, me enchem de sentido e de paz. Nesta madrugada de quarta, textos para serem lidos, conteúdos para serem fixados como peças de um robô, te roubei por alguns instantes para me despedir, de uma vez por todas, de tudo o que eu não vivi. Poderia ficar escrevendo textos e mais textos, e mais livros e mais coletâneas sobre tudo o que eu sinto neste momento, mas lamentar não vai me levar a nada, chegou a hora do corte.
Corte no tronco, com sangue, suor e dor. Mas um corte para abrir em um caminho de alguma perspectiva. Te quero, mas não te preciso. Sei que gostas de outra pessoa, e acredite, isso tem me matado lentamente. No final das contas, acho que a sua linda árvore que eu tanto cultivei, não passava de uma erva daninha que tem criado raízes fundas no meu ser e me tirado as forças, adeus.

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